quarta-feira, 6 de outubro de 2010

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Divagações alimentares de uma faminta
(ou Conexões entre comida e vida)

Encontrar o belo no simples pode parecer, a priori, um exercício dos mais fáceis e um expediente dos mais óbvios. Na ciência é assim: os cientistas, muitas vezes, lançam-se no desconhecido pela alternativa mais simples e plausível, em vez de se enveredar por caminhos tortuosos e difíceis. Da mesma forma, na arquitetura, a simplicidade das curvas encantou Niemeyer e revolucionou a concepção do modo de construir. Na culinária, o caráter simples de um prato popular habita o paladar de muita gente, fazendo pessoas salivarem só de pensar. Quem é que não tem um caso para contar da excelência de um bom prato de arroz, feijão, bife e batata frita que comeu dia desses?

Porém, não é sempre assim que as coisas se dão. Em se tratando das credenciais de uma pessoa, muitas vezes o mais complicado, o mais pomposo, o mais cheio de títulos é o que define o potencial de alguém. Entretanto, quantidade de títulos nem sempre pressupõe qualidade na vida profissional, social e emocional de um indivíduo.

Tome-se como exemplo a Joana Malta, esta aspirante à Chef – digo isso porque ela mesma faz questão de dizer que para chegar a ostentar o título de Chef, ainda terá que “comer muito feijão com arroz”. Joana não trabalhou com renomados Chefs em Paris, berço da alta culinária mundial, tampouco visitou locais inusitados e comeu da mesma comida dos habitantes da Papua-Nova Guiné. Mas, das comidas e quitutes de que já provei feitos pela Joana, ficou sempre aquela vontade de voltar às panelas e repetir duas, três, por vezes até por quatro vezes.
Acompanho a trajetória desta excelente “alquimista da culinária” desde sempre e posso dizer, com toda a propriedade, que os pratos elaborados e preparados por ela não deixam nada a desejar aos feitos por grandes culinaristas e gastrônomos da cidade de Belo Horizonte, quiçá do país e do mundo.

Acredito que a beleza resida no simples. João Guimarães Rosa, autor de clássicos como Grande Sertão: Veredas, falecido membro da Academia Brasileira de Letras e um dos mais notáveis escritores da língua portuguesa – dentre outras credenciais – falava fluentemente cinco línguas e possuía conhecimentos suficientes para se expressar em mais outras dez. Ele, um catedrático da literatura brasileira, imortalizou-se por enxergar no simples a essência da vida. Rosa viu no sertão, no matuto, na simplicidade de falar do homem campo, da natureza e do cotidiano de personagens também simples, universos ricos de detalhes e de “pequenas estórias”. Ele viu beleza no simples.

E é na simplicidade que vejo os maiores atributos de Joana, na maneira de se portar dela perante a vida, nas suas mais diversas situações e adversidades, e de se posicionar como profissional da gastronomia, esta arte no conceber e preparar alimentos com excelência e critério. Do macro ao micro, ela faz, com o mesmo carinho e simplicidade, pratos relativamente simples e majoritariamente elaborados. E sem nunca perder o bom humor.

Acredito que a relação das pessoas com a comida não perpasse somente pelo viés fisiológico. Estão aí os gastrônomos e Chefs para não me deixar mentir, pois, arquitetando e decorando pratos, num sincretismo de sabores e aromas, estes profissionais imbuem de significado subjetivo até o mais trivial pãozinho com manteiga.

Há de se considerar, porém, outros fatores, mais sutis, que se correlacionam com o tipo de região e clima onde tal alimento é plantado, tempo de colheita, modo de preparo e temperatura em que é servido. A relação emocional e espiritual com a comida, de quem come e de quem a prepara, é fundamental para o efeito dela no organismo. Enfim, acredito que cozinhar e comer são, antes de tudo, uma questão de atitude. E isso a Joana tem de sobra!

Carolina Brauer (*)

(*)Nota da autora do texto: Carolina não é crítica de gastronomia; antes, é uma amante da boa comida, das boas pessoas e das letras.

BLOG DA BRAUER :

carolinabrauer.wordpress.com
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1 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, Joana, fui reler esse texto hoje e até eu fiquei com cara de "ó"!

Belo texto, linda história de vida!

Yeah!

Abraços e parabéns pelo blog, da amiga e admiradora,

Carol.

Joana Malta Álvares

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A arte é proveniente de uma paixão, onde o indivíduo se encontra imerso num mar de inspiração trazendo de volta à tona a expressão maior oriunda dessa paixão.

Como a música, as artes plásticas, entre outras, a enogastronomia é uma arte. Tão apaixonadamente difícil de se produzir como todas as outras mas talvez a mais efêmera de todas. Impiedosamente engolida. Hahaha, mas os efeitos muitas vezes são inesquecíveis. Inesquecíveis pois mexem com todos os sentidos humanos,memória, percepção e além disso temos a relação de sobrevivência com a comida.

Além de ser uma arte e de todos os preceitos sócio-culturais em que está envolvida, bem como rituais de muitos povos, festejos, nascimento, morte, casamento, ritual do acasalamento(...), ela está lá com seus vinhos e quitutes sempre ao lado da humanidade.

E como não é de domínio algum, pode-se utilizar ingredientes e conhecimentos de toda parte do mundo para o nosso bel prazer(basta se ter á mão subsídios pra isso).

Como na viticultura, onde o produtor pra obter o vinho dos seus sonhos tem q ter toda uma paixão, mas que envolve também conhecimento, técnica, logística entre outros trâmites, ele tem que contar com a natureza no chamado Terroir( que proporciona o efeito que aquele tipo de solo, aquela latitude, altitude, vento, sol, mm de chuvas anuais,o tipo de planta que está sujeita aquelas condições climáticas , produtor e o tipo de tecnologia empregada pra confecção daquele vinho), o gourmet também tem que ter uma logística do que se vai cozinhar. Onde a quantidade de pessoas é importante, a estação do ano , que tipo de pessoas são esses convidados, se é almoço, brunch, jantar...Pois pode ser um jantar pra dois mas pra sair perfeito deve ser bem planejado. È legal saber a matéria-prima que vai se utilizar pra obter bons resultados como a origem das carnes,frutos do mar, peixes e queijos, observar a época de safra e entre safra dos vegetais, ou seja ver bem a cara do alimento, o tipo de conservação do estabelecimento onde se compra,a rotulagem do produto de acordo com a ANVISA, enfim um monte de observações no ato da compra, pensar em um cardápio ao seu alcance pra não sair nada errado na última hora e de preferência fazer uma boa harmonização com um vinho escolhido com cuidado( existem boas opções pra todos os bolsos).

Enfim, o intuito desse blog é trocar informações, discutir, incrementar, corrigir, contar casos e assim como eu que sou uma iniciante no infindável universo enogastronômico aprender bastante sempre e saber de idéias dos apaixonados e apreciadores da boa mesa. A vida tem que valer a pena!

Sejam bem-vindos!
Um beijo,
Joana Malta Álvares
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